Benigna Villas Boas

Minhas lembranças sobre o Curso Normal realizado em Brasília de 1960 a 1962

Minhas lembranças sobre o Curso Normal realizado em Brasília de 1960 a 1962

Como mencionei em publicação anterior, o currículo do Curso Normal desenvolveu-se por meio de unidades didáticas no seu primeiro ano, 1960. A partir de 1961 ele foi reorganizado e seguiu o formato tradicional, como no resto do país. Havia duas disciplinas distintas que se ocupavam da organização do trabalho pedagógico: Didática e Práticas de ensino. Elas não se articulavam. A primeira tratava, de maneira teórica, de temas como disciplina, atividades em grupo, estratégias didáticas. Em Práticas de Ensino aprendíamos a elaborar planos de aula, assistíamos a aulas na Escola de Aplicação da Escola Normal de Brasília (o primeiro prédio era de madeira e foi erguido ao lado da Escola Normal) e ali desenvolvíamos atividades com as crianças. Pouquíssimas vezes fizemos visitas a outras escolas da rede pública, o que aconteceu apenas em Brasília.

O trabalho na Escola de Aplicação da Escola Normal de Brasília me fascinava. As professoras eram escolhidas para lá atuarem, em horário integral. Eram consideradas muito competentes e exímias desenhistas ou contavam com familiares que as ajudavam a confeccionar belos materiais didáticos, alvo de elogios. Isso nos transmitia a ideia de as técnicas serem o ponto forte do trabalho pedagógico. Tínhamos de desenvolver atividades com as crianças de cada série do curso primário (1ª à 4ª). A professora de Práticas de Ensino elaborava o cronograma para cada uma de nós (éramos somente mulheres). Com algum tempo de antecedência procurávamos a professora titular da turma para nos apontar os conteúdos que “ensinaríamos” e indicar o tempo de que disporíamos. As crianças eram acostumadas com a nossa presença e nossa participação e nos tratavam muito bem, sinal de que as professoras nos valorizavam.

Percebo que minha passagem pela Escola de Aplicação e a convivência estabelecida com todos os que ali atuavam reforçaram meu interesse e meu gosto pelo magistério. A recordação que dela tenho é de uma escola quase perfeita, mesmo considerando as condições precárias daquele momento: início de Brasília, quando todos nós, estudantes e professores, chegamos empolgados e ávidos para ajudar a construir a nova capital. Tudo isso contribuiu para que não reclamássemos das dificuldades próprias de uma cidade que se iniciava. Hoje não defendo a existência de escolas desse tipo. Não tive a oportunidade de conhecer escolas da rede pública que já funcionavam antes da inauguração de Brasília e as que foram sendo criadas enquanto eu frequentava o Curso Normal. Este foi um dos pontos fracos do curso. A Escola de Aplicação era uma ilha.      

 

 

 

 

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