maio 2019

Campanha “anti-doutrinação” contra professores eleva estresse em sala de aula

 

JC Notícias – 20/05/2019

Campanha “anti-doutrinação” contra professores eleva estresse em sala de aula

Clima de perseguição estimulado por Bolsonaro e Escola sem Partido geram ambiente de permanente tensão, relatam profissionais de centros públicos e privados de São Paulo

Nunca foi fácil ser professor de escola no Brasil. Paga-se pouco, as jornadas de trabalho são longas, os recursos pedagógicos são escassos e, como se não bastasse, há alunos que recorrem à violência física ou verbal. A essa rotina, desde sempre estressante e mentalmente desgastante, se soma mais recentemente um novo elemento: o ambiente de ódio político no país e a patrulha ideológica promovida pela extrema direita dentro das salas de aula. “Parece que vivemos em um mundo do [escritor] George Orwell em que você é vigiado constantemente, o que nos deixa em uma situação de muita tensão. A gente sente certa hostilidade”, resume Antônio*, professor de Português do Ensino Médio em uma escola estadual paulista e do 6º ano do Ensino Fundamental II em um colégio municipal da capital. “Preciso repensar toda a aula, tomar mais cuidado com os caminhos que vou tomar”.

A educação vem sendo transformada numa das principais trincheiras da guerra ideológica e cultural travada no país há cerca de três anos, quando o projeto Escola sem Partido, que prega o fim de uma suposta “doutrinação” de esquerda dentro dos centros de ensino, passou a conquistar corações e mentes e a tramitar em legislativos municipais, estaduais e federal. Com a acirrada disputada eleitoral no ano passado e a ascensão de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, o ambiente escolar, já tenso, se deteriorou ainda mais em lugares como São Paulo.  Mesmo sem constar na lei, o Escola sem Partido é uma diretriz da atual gestão federal e do Ministério da Educação. Seus apoiadores também formam uma extensa rede de deputados, influenciadores digitais e grupos (como o Movimento Brasil Livre) que estimulam, por exemplo, que alunos filmem e denunciem seus professores. No dia 28 de abril, o próprio presidente Bolsonaro partilhou um vídeo, feito por uma aluna, em que expõe uma professora chamando o escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, de “anta“ por “meter o pau em tudo”. “Professor tem que ensinar, e não doutrinar”, escreveu o mandatário em seu Twitter, em um gesto que propaga o clima de perseguição no país. “A desvalorização social de nosso trabalho já é antiga, mas essa perseguição e esse ódio são, de fato, mais recentes. Sempre houve conflito entre alunos e professores, mas a novidade é que isso se transformou em perseguição e violência, institucionalizadas pelo presidente e pelo ministro da Educação”, argumenta a professora de Geografia Silvia Barbara, diretora do Sindicato de Professores de São Paulo (Sinpro).

Leia na íntegra: El País Brasil

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