Em tempos de pandemia: banalização da educação a distância?

No momento em que enfrentamos o Novo Coronavírus, receio que a educação a distância (ead) esteja sendo banalizada, pelos motivos que se seguem.

Em primeiro lugar, ela vem sendo praticada pelos sistemas de ensino e escolas com um grande número de estudantes e professores, sem terem passado por nenhuma ou quase nenhuma preparação. Em muitos casos, foi implantada repentinamente. Tenho lido e ouvido comentários a seu favor e contra, por pessoas envolvidas no processo. Um dos comentários positivos é a possibilidade de os estudantes darem continuidade às atividades escolares. Um dos negativos é a dificuldade das famílias de enfrentarem esse desafio.

Em segundo lugar, a preparação para o seu uso deveria envolver não somente os professores e coordenadores pedagógicos, mas, também, estudantes e pais. Os estudantes não têm o hábito de estudar sozinhos e nem sempre conseguem organizar seu tempo para o trabalho. Parte deles está acostumada a jogos online e a se comunicar com amigos e colegas, em situações divertidas. Estudar pela internet requer postura apropriada para isso. Não é brincadeira para passar o tempo. Quanto aos seus pais, estão sendo envolvidos em uma sistemática de trabalho para a qual não receberam orientações. Já li reclamações de alguns deles dizendo não terem tempo para acompanhar as atividades dos filhos, principalmente os mais jovens, ou por não saberem o que lhes caber fazer. Permanecem junto aos filhos enquanto trabalham ou os deixam “se virando”? E os que não conhecem a dinâmica da ead? E os que não têm ou não usam computador? E os que não têm internet?

Em terceiro lugar, é preciso levar em conta que nem todas as atividades podem ser desenvolvidas online. A ead não substitui o trabalho presencial, no caso de estudantes da educação básica. Estas duas modalidades podem ser complementares, quando o seu planejamento é bem estruturado.

Em quarto lugar, usada de forma intempestiva, como tem acontecido nesses meses de enfrentamento do Novo Coronavírus, a ead pode contribuir para o alargamento das desigualdades sociais e educacionais. Os estudantes que têm as condições necessárias, tais como computador, espaço próprio para a realização das atividades e acompanhamento familiar, cumprirão o plano de estudos e avançarão. Aqueles que não as possuem ficarão em desvantagem. Quando as aulas forem retomadas, como os professores atuarão com esses dois grupos?

Por último, usada de maneira inadequada, a ead poderá ficar mal vista, por não conseguir atender a todos, o que não é desejável. Os gestores, professores e coordenadores pedagógicos já pensaram em como irão articular as atividades online realizadas pelos estudantes com o trabalho presencial que acontecerá quando as escolas reabrirem?

Não rejeito a ead. Pelo contrário. Ela constitui um valioso recurso quando utilizada na hora certa, pelas pessoas certas, com planejamento bem estruturado, do qual faça parte o processo avaliativo condizente com esse formato pedagógico.

Não cabe, neste momento, banalizá-la, atribuindo-lhe o papel de justificar o pagamento dos professores, no caso das escolas privadas, e de cumprimento de dias letivos.