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O problema envolvendo sistemas tradicionais de notas

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Mestra, doutora e pós-doutora em Educação

Professora Emérita da UnB

Coordenadora do Grupo de Pesquisa Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico – GEPA

Integrante do Observatório da Educação Básica, da Faculdade de Educação da UnB

Li o artigo com o título acima, publicado pela ascd, no dia 1º de maio de 2025, via internet. Seus autores, Laura J. Link, Maureen Leeson e Joseph Anthes, questionam: “Estamos atribuindo notas corretamente? Esta é a pergunta que professores se fazem, dizem os autores. Durante um encontro com docentes de escolas de nível médio, os autores ouviram de um deles, que atua há vários anos: “sabemos que notas devem refletir o que os estudantes aprenderam, mas estamos realmente incluindo tudo, participação, compromisso e até atitudes”. Na escola os estudantes aprendem não apenas o previsto em documentos curriculares mas tudo o que vivenciam, como relata o professor.

Embora a incorporação de avaliação comportamental às notas possa ser administrativamente conveniente, esse recurso perpetua desigualdades nas escolas, entendem os autores, principalmente para os estudantes negros. Os autores não explicitam o sentido e o âmbito da conveniência, que pode atender a vários propósitos como: obrigar os estudantes a se comportarem segundo as regras da escola; justificativa aos pais pelas não aprendizagens incorporadas pelos seus filhos; imputar aos estudantes a responsabilidade pelas aprendizagens não alcançadas. Os autores  chamam a atenção para o perigo de estarem sendo perpetuadas práticas preconceituosas nos sistemas educacionais.   

Estudos revelam, segundo os autores, um padrão problemático: ao incluírem fatores comportamentais nas notas acadêmicas, as escolas estão reforçando desigualdades raciais e de gênero que significativamente impactam as trajetórias estudantis. Os componentes participação, esforço, conformidade com as regras escolares e cidadania formam um currículo oculto de expectativas culturais que podem corresponder a cerca de 50 por cento da nota final.  

Contudo, nem sempre os professores reconhecem essa prática. Pesquisas revelam que docentes costumam interpretar comportamentos idênticos de forma diferente levando em conta raça, gênero ou circunstâncias culturais.

Meninas costumam receber notas mais altas do que os meninos no quesito cumprimento de regras, enquanto os meninos recebem notas mais baixas por serem vistos como mal comportados. Contudo,  isso não significa que se engajem menos na aprendizagem.

Os autores concluem que práticas justas de atribuição de notas  requerem comprometimento e coragem. Além disso, exigem dos professores examinarem seus preconceitos, desafiando crenças há muito tempo enraizadas, encarando verdades desconfortáveis sobre suas próprias práticas. O que se busca é a manutenção do alto padrão de aprendizagens por todos os estudantes.

Palavras finais

Este texto não trata de avaliação, mas de notas. Escrito em inglês, a palavra assessment  não é empregada. A palavra-chave é grade. Como o título aponta, ele se refere ao “problema com sistemas tradicionais de notas”.  Não menciona o processo que resulta em notas. Trata-se de um texto enxuto e esclarecedor.  Como sou defensora da prática da avaliação formativa, decidi publicá-lo para que se observe que a avaliação classificatória não é comprometida com as aprendizagens de todos os estudantes. A sua classificação por meio de notas pode reforçar desigualdades entre eles.   

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