Avaliação: categoria estratégica do trabalho pedagógico

 

Avaliação: categoria estratégica do trabalho pedagógico

Em tempos de crise na educação, como a que estamos vivendo, dar atenção à avaliação é obrigatório. Ela desnuda as intenções e aponta rumos. Mudanças na organização do trabalho pedagógico requerem acompanhamento e avaliação em todo o seu percurso. A avaliação contínua, transparente e participativa é aliada do trabalho de qualidade social. Se não for assim, é autoritária e tendenciosa.

Voltemos ao caso da militarização de escolas públicas no DF ou gestão compartilhada, designação que confunde os desavisados. Se entendemos a palavra compartilhar como sinônimo de participar, os militares presentes nas escolas não participam das ações dos professores nem estes das ações disciplinares das quais se encarregam os primeiros. Cada um desses segmentos se responsabiliza pelo seu “pedaço”. Portanto, gestão compartilhada é uma falácia porque, na escola, não se separa o pedagógico do administrativo. A gestão da escola democrática é, sim, compartilhada entre todos os que lá atuam porque participam da tomada de decisões e se voltam para os mesmos objetivos. Compartilhamento pressupõe participação, o que não ocorre quando a escola é militarizada.

Onde se situa a avaliação nesse contexto? A SEEDF anunciou que irá estender a gestão compartilhada a mais 6 escolas, em agosto. Indago: foi feita avaliação criteriosa das ações nas 4 escolas que a implantaram no início do ano de 2019? Essas escolas fizeram a avaliação do seu trabalho (autoavaliação) a partir da adoção da gestão compartilhada? Analisaram se a violência escolar, a evasão escolar e o baixo desempenho dos estudantes (justificativas para a sua implantação) se mantêm ou foram reduzidos e em que proporção? Foi feita pesquisa para analisar como as ações se desenvolveram? Quais seriam as percepções dos estudantes, dos professores, da equipe gestora, da equipe administrativa, dos pais/responsáveis e dos policiais militares? Quais recomendações eles fariam sobre a continuidade ou não da gestão compartilhada? Por quê? No caso da sua permanência, o que precisaria ser reestruturado? Particularmente os estudantes, como se sentiram participando dessa organização do trabalho pedagógico? Eles a recomendariam a seus amigos? Por quê? Estas são questões cujas respostas encaminhariam à decisão de manutenção ou não da gestão compartilhada.

Levando em conta que a gestão compartilhada com militares é um tema controvertido e tem gerado discordâncias, na equipe responsável pela pesquisa deveriam ser incluídas pessoas externas à escola, como professores de cursos de licenciatura.

A avaliação é uma categoria estratégica do trabalho pedagógico que não atua isoladamente. Atrela-se a objetivos, isto é, cumpre objetivos, formando com eles um par poderoso (Freitas defende essa ideia). Avaliar a organização e o desenvolvimento do trabalho pedagógico de escolas com gestão compartilhada ou militarizadas passa, obrigatoriamente, pela análise dos seus objetivos (declarados e não declarados). A iniciativa de transformação de escolas públicas em militarizadas, geralmente as que se encontram em situação de vulnerabilidade, tem objetivos não completamente declarados e requer análise aprofundada. Não pode ser expandida sem avaliação cuidadosa, que considere o contexto sócio-político escolar. Torna-se necessário desvelar: a quem interessa esse formato pedagógico?

A avaliação é também uma categoria estratégica do trabalho pedagógico por compreender três níveis: avaliação para as aprendizagens, avaliação institucional (autoavaliação pela escola) e avaliação em larga escala. Com essa abrangência tem o poder de acompanhar, analisar, identificar fraquezas e potencialidades e apontar as necessidades de avanço do trabalho de toda a escola e da sala de aula. Tudo isso se os sujeitos que a desenvolvem se dedicarem a estudá-la, compreenderem-na e se dispuserem a colocá-la em prática. De outra forma, será apenas um ritual sem consequências.

FREITAS, Luiz Carlos de et al. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.