Conversando sobre feedback

 

Conversando sobre feedback

Aprendizagem e avaliação andam juntas. Estão imbricadas. Uma auxilia a outra. O feedback é um recurso que perpassa as duas, fortalecendo-as. Para isso, é preciso que se tenha o entendimento de avaliação que promova as aprendizagens e não esteja a serviço da competição, da classificação e da exclusão. É o que se espera da avaliação formativa.

O feedback costuma ser usado como sinônimo de “devolutiva”. Não considero adequada esta palavra porque pode encerrar apenas a ideia de devolução, seja de provas ou outras atividades aos estudantes com ou sem comentários, em qualquer época e sem dialogar com eles sobre como atingir os objetivos desejados. Portanto, feedback é a melhor palavra e já se encontra em nossos dicionários.

Pela avaliação se identifica o que cada estudante aprendeu e o que ainda não aprendeu para que, por meio do feedback, receba orientação para o prosseguimento das atividades, de modo que nada perturbe seu percurso.

O artigo “Why giving effective feedback is trickier than it seems”, publicado em Mind/shift: how we will learn, de 16/04/2017, comenta trechos do livro  How to give effective feedback to yours students, de autoria de Susan Brookhart. Esta autora afirma que frequentemente os professores com quem trabalha tentam preencher as lacunas de aprendizagem com apenas uma sessão de feedback, de modo que um volume grande de informações é repassado aos estudantes. Sua recomendação: primeiramente, elogiar os pontos positivos do trabalho e, em seguida, oferecer uma ou duas sugestões para que se eliminem as dúvidas.

A autora considera que o feedback deve ocorrer quando o estudante tem condições de imediatamente atuar sobre ele, não ao final de uma unidade, quando não há mais tempo para ser incorporado. Também é perda de tempo para o professor e o estudante o oferecimento de feedback ao final do ano letivo. Obviamente ela se refere à educação básica. Estudantes de cursos mais adiantados necessitam, sim, mesmo ao final do ano letivo, receber comentários para aperfeiçoar suas futuras produções.

Cabe destacar que o feedback vincula-se aos objetivos de aprendizagem.

“Diga aos estudantes como eles se encontram em seu trabalho”, recomenda Brookhart. Isso não significa apenas escrever “bom trabalho” ou “necessita melhorar” nas margens dos textos, ela diz. São comentários que não oferecem contribuições e que indicam o final da conversação. Sem descrições do que cabe avançar, os estudantes não têm as informações necessárias para superar suas fragilidades.

Brookhart dá exemplo de um feedback desvinculado da escrita de um texto que deveria ser persuasivo. Estudantes de uma turma de ensino elementar receberam a incumbência de escrever uma carta à bibliotecária da escola depois que um livro foi roubado, enumerando razões para ele ser comprado novamente. Um estudante escreveu um parágrafo afirmando que ele era engraçado e continha mistérios, razão pela qual deveria ser novamente adquirido. O feedback da professora recaiu quase inteiramente sobre a escrita, o uso de letras maiúsculas e o formato da carta. Ao final do texto, a professora escreveu: “acrescente mais”. Este feedback foi classificado como inadequado. O estudante pode ter entendido que a professora observou apenas a gramática e o formato da carta, e não as suas ideias sobre persuasão, que foi o objetivo da atividade. Segundo a autora, a professora não fez um elogio ao trabalho do estudante, que mencionou duas razões que justificariam a compra do livro, o que seria ponto positivo a ser mencionado. O conteúdo do feedback poderia ter solicitado ao estudante acrescentar por que o livro era interessante e quais mistérios ele apresentava.

“Os professores que adotam a avaliação formativa solicitam aos estudantes que pensem e não apenas se voltam para quão corretos eles estão”, diz a autora. Podemos entender que o que se pretende é que eles pensem e não estejam “certos”.

Brookhart insiste na necessidade de o feedback incluir o reconhecimento dos pontos positivos da produção do estudante justificando que, quando a ênfase recai sobre as fragilidades, ele pode tornar-se desmotivador.

Também o professor de beneficia do feedback, porque tem a oportunidade de formar uma visão geral acerca das necessidades mais comuns entre os estudantes, para que possa dar continuidade ao trabalho pedagógico.

Neste pequeno texto tratei apenas do feedback. Em outro abordarei o automonitoramento pelo estudante, um passo à frente.