Professores terão que mudar seu jeito de trabalhar depois da quarentena

“Professores terão que mudar seu jeito de trabalhar depois da quarentena”

Andreas Schleicher, principal responsável pelo relatório PISA, da OCDE, afirma que o custo social do fechamento das escolas pela pandemia é dramático, em entrevista ao jornal El país, do dia 23/04/2020.

Ao ser indagado sobre a avaliação dos estudantes que não têm mesa de trabalho em casa nem computador e que, portanto, também não têm condições de desenvolver atividades, ele respondeu que a pior solução será decidir por sua reprovação. Haverá alunos que voltarão às aulas entusiasmados, com muitas aprendizagens online que os terão enriquecido, graças ao apoio de suas famílias. Outros chegarão desmotivados. O desafio será aumentar o reforço escolar para essas crianças. Há uma grande esperança depositada nos professores, acrescentou. O ambiente de aprendizagem e o das salas de aula serão bem diferentes do que ocorreu em qualquer outro ano.

Considerando o caso brasileiro, duas observações são necessárias. É muito simples afirmar que os estudantes que não puderem acompanhar as atividades online não deverão ser reprovados. Precisamos eliminar a palavra reprovação e pensar de forma oposta. A retomada do trabalho escolar exigirá que a escola se reorganize e efetivamente promova as aprendizagens de todos os estudantes. Para aqueles que chegarem desmotivados, o “reforço escolar”, como diz o entrevistado, não poderá discriminá-los. Todos os estudantes terão o direito de participar de um trabalho que amenize as angústias, o estresse e as dificuldades enfrentadas pelas famílias. Também os profissionais da escola retornarão ao trabalho necessitando de apoio emocional e psicológico. Será um momento muito delicado na vida de cada um.

Aprovação e reprovação são coisas do passado que não trouxeram contribuição à formação dos estudantes. É hora de pôr em prática o que vimos afirmando há tempo e que nunca se concretizou: todos aprendendo. Reprovação se opõe à aprendizagem, se esta for entendida em sentido amplo. E a escola é lugar de aprendizagens. Existe para isso e não para aprovar e reprovar. Será que a pandemia deixará como legado esta compreensão?

A segunda observação se dirige à grande esperança depositada nos professores. A crise provocada pela pandemia tem mostrado o quanto é grandiosa a sua atuação. Lembremo-nos da professora da cidade de Piranguinho, no interior de Minas Gerais, que encontrou uma forma inusitada de enviar atividades escritas para cada um dos seus estudantes: colocou-as em sacolas plásticas individuais e as pendurou em uma espécie de varal na grade externa da sua casa, para que seus pais as pegassem. Não existe melhor exemplo de dedicação do que este. Foi o que ela pôde fazer. E é louvável. Contudo, para que a escola se repense e se reorganize serão necessárias muito mais do que ações como esta, de todo tipo, incluindo a verdadeira valorização dos docentes, oportunizando sua formação inicial e continuada e oferecendo recursos de toda sorte para que façam o melhor pelas crianças e jovens. Contudo, eles sozinhos não deverão ser responsabilizados pela árdua tarefa que os espera pós-COVID – 19.

Voltando às contribuições do entrevistado, ele aborda a desigualdade que se aprofundará. Será necessário encontrar formas de mitigá-la, afirma: os alunos terão que dedicar mais horas ao estudo e será preciso envolver as famílias. As que possuem mais recursos poderão compensar com aulas extracurriculares pagas do seu bolso. Porém, ele não avança em suas considerações. Entendemos que envolver as famílias requer grandes esforços, como desenvolver trabalho colaborativo. Além disso, as escolas deverão contar com recursos técnicos e financeiros para reforçar suas equipes. O trabalho escolar pós-COVID – 19 não será mais o mesmo. Não se pode voltar às aulas como se nada tivesse acontecido, diz o entrevistado.