Residência pedagógica: “mais um desmando educacional”

 

Residência pedagógica: “mais um desmando educacional”

No dia 19 de junho de 2018, o GEPA realizou o Avaliação em debate V, reunindo professores e demais profissionais da educação de cursos de licenciatura e da educação básica para discutirem a residência pedagógica instituída pela CAPES por meio da Portaria nº 38 de fevereiro de 2018. O principal objetivo foi o de abordar o tema com os sujeitos que realmente irão pôr em prática essa nova modalidade: professores formadores e os da educação básica. Vários encontros sobre esse tema já foram realizados sem a presença de profissionais que atuam na educação básica, o que pode denotar mais um aspecto impositivo da residência pedagógica tal como foi definida pela CAPES. De modo geral, a escola de educação básica recebe as inovações prontas, sem a oportunidade de participar da sua concepção.

Intencionalmente convidamos um grupo pequeno para o primeiro debate para que todos pudessem manifestar suas percepções e incompreensões. Todos os convidados terão envolvimento com a adoção da residência pedagógica. Além dos integrantes do GEPA, estiveram presentes 17 profissionais da educação.

Previamente foram enviados aos participantes, que confirmaram sua presença, documentos informativos sobre o tema, como as portarias da CAPES, textos produzidos por integrantes do GEPA e manifestações de entidades educacionais, em preparação para o debate. Por isso, decidimos que não haveria palestra, apenas uma rápida introdução, já que havíamos escolhido o formato de debate, com o intuito de que todos pudessem se manifestar.

Ao final do encontro, os participantes registraram as suas seguintes contribuições:

– “esclarecimentos acerca do edital e como a SEEDF e o IFB se portam diante do assunto”;

– “entendimento da proposta de Residência Pedagógica posta, das lacunas e dificuldades para implantação”;

– “este foi o primeiro contato com a temática. Com isso, percebo a necessidade de estudo e reflexão a respeito do tema”;

– “para mim as contribuições foram incrivelmente esclarecedoras. Mesmo com essa temática relativamente recente, ao menos para mim, os colegas estão muito interessados. E isso faz com que surjam vários pontos de vista que nos ajudam a construir a nossa opinião sobre tal. Após esse encontro, acredito que eu possa falar com mais propriedade sobre a Residência Pedagógica”;

– necessidade de mais debate e reflexão sobre o tema;

– “o evento contribuiu para ampliar a minha compreensão de que a residência pedagógica precisa ser rechaçada e todos os interessados nessa questão deverão ser chamados para discuti-la a fim de buscar um encaminhamento político-pedagógico viável para atender esse ponto da formação docente”;

– “maior compreensão sobre a temática”;

– necessidade de maior posicionamento no sentido de minimizar equívocos da proposta”;

– necessidade de preparação das escolas-campo para acolher os residentes”;

– “este encontro me oportunizou conhecer um pouco mais sobre o assunto, bem como as fragilidades que existem desde a sua concepção e pensar nas suas implicações no ambiente escolar. O debate foi enriquecedor”;

– “compartilhamento de informações. Debate político sobre o tema. Socialização de experiências”;

– “excelente oportunidade para discutir sobre esse tema, articulando diferentes atores do processo”;

– “o evento foi importantíssimo para refletirmos sobre os desmandos educacionais e, principalmente, desmandos na área de formação. Olhando o documento, vejo um processo restritivo, incompreensível, ausente de um caráter epistemológico relacionado à formação de professores. Não foi apresentada uma justificativa plausível para a formulação da proposta. Ela é uma estratégia precária para colocar em circulação a BNCC e uma desqualificação dos profissionais da educação”;

– “ampliou o entendimento sobre as fragilidades da proposta da CAPES e dos encaminhamentos da seleção das escolas na SEEDF. Além disso, possibilitou levantar questionamentos sobre a fundamentação do programa”;

– “primeiro, descobri que existe. Segundo, o programa de residência existe mal. Deve melhorar, com a superação fragmentada da gestão educacional”;

– “não havia estudado a respeito, por isso imaginava que a residência seria uma modalidade proposta como possibilidade de complementação da formação, pós-estágio. As colocações me trouxeram a realidade assustadora que se apresenta e que as perspectivas são péssimas. É preciso lutar”;

– “o debate foi muito rico, trouxe valiosas contribuições e apontou os sérios conflitos de interesse que cobrem o tema. A realidade é terrível, o golpe segue em curso e é preciso organizar a resistência”;

– “como professora da SEEDF. O encontro foi bastante produtivo. Nada tinha ouvido falar sobre o tema e saio do encontro bastante angustiada com a falta de organização e diretrizes para a implementação do projeto”;

– “a residência pedagógica é uma iniciativa que vem na contramão de muitas conquistas. De forma sutil, estabelece o aumento gradativo da desvalorização profissional do docente. O edital traz inúmeros vícios desde sua criação, pois não elenca instrumento de articulação entre IES e escolas da Educação Básica”;

Os participantes também apontaram sugestões: “o Sinpro – DF atua a partir da demanda, quando é provocado. Sugiro que essa questão seja apresentada e discutida no formato de audiência ou seminário, que poderia ser encabeçado pelo GEPA, com apoio da EAPE/SUBEB e representantes das IES estejam presentes. Quero também ser ouvida”; levar a problemática para as instâncias políticas competentes, expondo as fragilidades e sugerindo soluções documentalmente e com divulgação ostensiva e pública”; “aprofundar estudos sobre fundamentação teórica da proposta da CAPES. Encaminhamento para o Conselho de Educação sobre diretrizes para a SEEDF sobre esse programa”; “continuidade do debate e proposição de organização da oferta, formação, diretrizes a respeito da residência pedagógica”; “mais debate sobre o tema”; criação de um documento público apontando os principais questionamentos surgidos na discussão da manhã de hoje”. Um outro encontro sobre o tema”; “colocar os textos-base na página do GEPA”; “elaborar um documento norteador e propositivo sobre a Residência Pedagógica”; “elaborar documento propondo a estruturação do projeto de implantação da residência nas escolas”; “que o GEPA continue com esta proposta, pois a educação precisa de pessoas que se preocupem com o futuro deste país”; “elaboração de um documento sintetizador e propositivo sobre o assunto”.

Como se pode perceber, muitas sugestões fogem à alçada do GEPA, que poderá encaminhá-las aos setores competentes.

Foi possível perceber, nos registros do encontro, que os participantes que atuam na educação básica não tinham conhecimento da residência pedagógica, o que causa apreensão por serem os que receberão os residentes. Parece que a SEEDF ainda não discutiu esse programa com os profissionais da educação envolvidos. É urgente que ela faça isso.

De nossa parte, observamos que o Avaliação em debate V cumpriu seu propósito de colocar em discussão um tema que afeta os cursos de licenciatura e as escolas de educação básica. Estas últimas cumprirão a importante função de receberem os residentes e com eles trabalharem por um razoável espaço de tempo.

Em outro formato, concebida colaborativamente por professores formadores e os das escolas de educação básica, a residência pedagógica poderia fortalecer a formação docente.