USP lança Cátedra de Educação Básica e dá voz aos professores

Não olho com bons olhos iniciativas como a que é publicada a seguir. O próprio nome já parece indicar a prepotência universitária: Cátedra de Educação Básica. Aliás, é o que ela pretende: impor seu projeto às escolas de educação básica. Se a ação foi pensada por ela, caberia convidar um grupo de professores para, juntamente com outros de cursos de formação inicial de professores, construírem o projeto.

Será que professores de escolas de educação básica foram convidados para a cerimônia de lançamento da Cátedra no MAC, em São Paulo? Foram mencionadas as presenças do reitor da USP, Vahan Agopyan, do diretor do IEA, Paulo Saldiva, da superintendente da Fundação Itaú Social, Angela Dannemann, e do coordenador da Cátedra de Educação Básica da USP, professor Nílson José Machado. A USP está lançando holofotes sobre si, com a colaboração da Fundação Itaú, que arcará com os custos, a troco de quê?

Machado, coordenador da Cátedra, entende que “faltam projetos que incentivem a formação do professor, que possam mobilizar os alunos”, observou. “Daí a importância do papel da cátedra de se reunir, de visitar as escolas, de buscar a parceria de diversos níveis do ensino público e privado.” O que falta, professor Machado, pode ser encontrado dentro das universidades: competência e comprometimento com a formação inicial dos professores para a educação básica.

Nessa situação emergencial do ensino básico, de desvalorização da educação, segundo Machado, coordenador da Cátedra, ele mesmo afirma: “Creio que é importante recorrer à ajuda de todos os professores, tanto do ensino básico como do superior”. Ele recomendou em bom tom: “Os professores que se aposentam deveriam ir para a reserva, para serem chamados em situações como esta”. Vamos militarizar também as universidades? O que ele quer dizer com isso? Voltar a trabalhar quando forem requisitados? Aliás, em tempo de governo quase militar, isso até faria sentido.

Eu, como professora emérita da UnB e aposentada, gostaria de ser convidada para alguma atividade acadêmica relevante, para dar continuidade ao que venho desenvolvendo em um grupo de pesquisa: coorientação, por exemplo. Porém, o espírito competitivo não aceita isso. Os professores em exercício talvez recebam esta sugestão com ressalvas.

 

JC Notícias – 25/02/2019

USP lança Cátedra de Educação Básica e dá voz aos professores

Objetivo é desenvolver projetos com a participação de educadores para a melhoria do ensino básico no Brasil

Identificar medidas que possam orientar as políticas para a educação básica brasileira a partir de ações e da formulação de projetos, com a participação dos educadores, pesquisadores e profissionais das escolas públicas. Essa é a meta da Cátedra de Educação Básica da USP, lançada no dia 21 de fevereiro, em cerimônia realizada no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. A iniciativa é do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e da Fundação Itaú Social, que, no decorrer dos próximos cinco anos, pretendem mapear a situação real das escolas e atuar em conjunto com o governo do Estado de São Paulo para acompanhar os problemas e propor soluções que possam ser referência para a melhoria da educação básica em todo o País.

A cerimônia no MAC teve a participação do reitor da USP, Vahan Agopyan, do diretor do IEA, Paulo Saldiva, da superintendente da Fundação Itaú Social, Angela Dannemann, e do coordenador da Cátedra de Educação Básica da USP, professor Nílson José Machado.

A nova cátedra foi inspirada na atuação do Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira do IEA, que em 2017 e 2018 realizou seminários sobre o tema e, no final dos trabalhos, elaborou o documento Diagnósticos e Propostas para a Educação Básica Brasileira, conforme noticiado pelo Jornal da USP (leia aqui).

Conforme nota do IEA, a Fundação Itaú Social destinou verba de R$ 5 milhões para as atividades da cátedra, dividida em aportes anuais de R$ 1 milhão. “O montante irá subsidiar as atividades durante os cinco anos de duração do convênio, que poderá ser renovado no caso de concordância das instituições parceiras”, acrescenta a nota.

“Existem sérios problemas na educação básica, com evidências nítidas, então, o que impede de sairmos do lugar?”, questionou, na cerimônia de lançamento da cátedra, o professor Nílson José Machado, docente do IEA e da Faculdade de Educação da USP, que também coordena o Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira do IEA. “Na verdade, esses problemas aparentes escondem os problemas reais. A falta de professor, por exemplo, é um problema aparente. No entanto, o que existe é a realidade das más condições de trabalho, que desvalorizam os professores.”

Machado lembrou que não faltam apenas dinheiro e salários justos. “Falta muito mais. Faltam projetos que incentivem a formação do professor, que possam mobilizar os alunos”, observou. “Daí a importância do papel da cátedra de se reunir, de visitar as escolas, de buscar a parceria de diversos níveis do ensino público e privado.”

Nessa situação emergencial do ensino básico, de desvalorização da educação, Machado comentou: “Creio que é importante recorrer à ajuda de todos os professores, tanto do ensino básico como do superior”. Ele recomendou em bom tom: “Os professores que se aposentam deveriam ir para a reserva, para serem chamados em situações como esta”.

A expectativa da equipe do IEA – que começou reunindo cerca de 20 educadores – é mobilizar a população em prol da melhoria da educação básica. “Em quatro ou cinco anos, pretendemos observar os resultados positivos dessa mobilização.” Machado destacou que é importante a implantação de um projeto que partilhe valores essenciais: “É essencial a integridade, entendida como a sintonia entre o discurso e a ação. Também é essencial valorizar o profissionalismo e a competência do professor”.

A Cátedra de Educação Básica da USP tem uma missão fundamental para a sociedade brasileira, disse o reitor Vahan Agopyan, também durante a cerimônia. “A Universidade tem a obrigação de recomendar, de contribuir, de ser uma referência.”

A cátedra realizará seminários para planejar suas ações. O primeiro encontro ocorrerá no dia 16 de março, sábado, das 9 às 18 horas, no IEA. O evento estará aberto para a participação de todos os interessados. Os seminários serão disponibilizados no site do IEA em texto e vídeo.

Jornal da USP