Benigna Villas Boas

ANÁLISE DA PROPOSTA DE ALTERAÇÃO NO REGIMENTO ESCOLAR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO DF

 

ANÁLISE DA PROPOSTA DE ALTERAÇÃO NO REGIMENTO ESCOLAR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO DF

Grupo de pesquisa Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico – GEPA

06/05/2019

A Secretaria de Estado de Educação do DF (SEEDF) vem construindo concepção e práticas de avaliação formativa desde 2000. Quatro versões das diretrizes de avaliação foram elaboradas nesse período, sendo que as três últimas tiveram a participação de professores. A quinta versão foi concluída ao final de 2018, mas não foi implementada. Um esforço gigantesco foi empreendido, durante os últimos anos, por meio da formação continuada dos educadores, para ampliação da compreensão dessa função avaliativa.

Contudo, ao final de abril deste ano, as escolas foram surpreendidas por uma proposta de alteração do regimento escolar a elas enviada para oferecimento de sugestões, que entra em conflito com os preceitos da avaliação formativa inseridos nos documentos oficiais da rede pública do DF. Continue a ler »ANÁLISE DA PROPOSTA DE ALTERAÇÃO NO REGIMENTO ESCOLAR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO DF

Em busca da qualidade social da escola

 

Em busca da qualidade social da escola

Neste início da gestão Bolsonaro, quando a escolha desastrada de dois ministros da Educação tem criado polêmica e desassossego entre os educadores profissionais, pelo fato de não terem familiaridade com os temas urgentes do setor, busco alento nos ensinamentos de Freitas (2018, p. 128):

“Os processos e a vivência dos espaços da escola ensinam. Não apenas a aprendizagem formal em sala de aula, mas a própria gestão escolar vivenciada pelos jovens é um importante processo de constituição da personalidade e da sociabilidade. Se estamos compromissados com a democracia, todos os espaços da escola devem permitir a vivência da democracia; devem chamar os alunos para a participação em seu coletivo, permitindo o desenvolvimento da sua auto-organização e seu desenvolvimento com a construção coletiva, com espírito crítico. O conhecimento que se adquire nos processos escolares deve ser um instrumento de luta voltado para esses objetivos e não simplesmente algo a ser apresentado por ocasião dos testes e provas.Continue a ler »Em busca da qualidade social da escola

“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

A pergunta acima foi feita por uma professora da rede pública de ensino do DF, muito comprometida com o trabalho que desenvolve. Como o DF mantém a organização da escolaridade em ciclos há algum tempo e suas escolas receberam documentos orientadores da sua implementação, fui consultá-los para entender a razão da pergunta da professora. Não encontrei a resposta para sua dúvida. Fiquei preocupada. Ela deveria constar das orientações. Tento aqui refletir sobre o tema.

Os dados numéricos do desempenho dos estudantes, advindos de vários formatos, como provas, não “provam” por si sós que a organização da escolaridade em ciclos é melhor do que a seriação, assim como aprovação não é um indicador de que eles são os salvadores da pátria. Dados são importantes, mas não suficientes. É responsabilidade da escola acompanhar as aprendizagens de cada estudante e obter informações seguras de que ele aprendeu o necessário para a continuidade do seu percurso de estudos. Cabe-lhe, também, fazer o mesmo em relação ao que ele ainda não aprendeu, para que invista em intervenções direcionadas às suas necessidades, o mais rapidamente possível, tendo sempre em mente os objetivos de aprendizagens. Continue a ler »“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

Reitoria da Uerj divulga nota em defesa da Filosofia e da Sociologia

 

JC Notícias – 29/04/2019

Reitoria da Uerj divulga nota em defesa da Filosofia e da Sociologia

“A pesquisa pura produz os conceitos sem os quais a pesquisa aplicada seria impossível”

Leia abaixo:

Nota da Reitoria sobre possível diminuição de investimento nas áreas de Filosofia e Sociologia

Nesta última sexta-feira, 26 de abril, a comunidade universitária brasileira foi surpreendida pela divulgação, pelo Governo Federal, de possível alteração no repasse de recursos financeiros às áreas de Filosofia e Sociologia. A justificativa apresentada fundamenta-se em dupla intenção: “gerar retorno imediato ao contribuinte” e “melhorar a sociedade”, priorizando áreas que seriam supostamente mais capazes de realizar esses dois intentos.

Na posição de pesquisadores e professores de uma Universidade pública, julgamos ser nossa obrigação oferecer elementos, lastreados em nossa prática profissional, para a qualificação do debate em torno dessa proposta.

O ponto principal que gostaríamos de destacar é a relação sugerida entre o bom uso dos recursos públicos arrecadados com os impostos e seu suposto mau uso com a manutenção dos cursos de Filosofia e Sociologia.

É característico das instituições de pesquisa a distinção entre pesquisa básica e pesquisa aplicada. A pesquisa básica (ou pura) se destina à produção de conhecimento teórico e ao refinamento conceitual, os quais são, por sua vez, os instrumentos utilizados para a resolução de problemas específicos de aplicação mais imediata, enquanto a pesquisa aplicada produz soluções para questões específicas. Assim, a pesquisa pura produz os conceitos sem os quais a pesquisa aplicada seria impossível.

Essa relação entre o “produto” da pesquisa pura – o conceito – e o “produto” da pesquisa aplicada – as políticas públicas, as patentes, as novas técnicas, entre muitos outros – ocorre em todas as áreas do conhecimento. A pesquisa sociológica pura, por exemplo, é crucial para o desenvolvimento de diferentes Ciências Sociais Aplicadas, como o Direito, o Serviço Social, a Administração, a Economia e o Planejamento Urbano. A reflexão filosófica, por sua vez, influencia o conhecimento matemático que sustenta as Ciências Exatas e integra a formação de profissionais de várias áreas das Humanidades e das Ciências Biomédicas, tais como a Psicologia, o Jornalismo e a Enfermagem.

Essas conexões atravessam, assim, as fronteiras disciplinares, com conceitos produzidos em algumas áreas sendo utilizados para o aprimoramento das práticas profissionais de outras. E é justamente aqui que essa visão de que haveria um suposto desperdício na alocação dos recursos públicos nas áreas da Filosofia e Sociologia se torna muito preocupante.

Oferecemos dois exemplos:

– a reflexão sobre o pluralismo cultural, questão central nas Ciências Sociais: sem a compreensão teórica daquilo que está na base das dificuldades geradas pela convivência entre pessoas com visões de mundo distintas, como mediar e administrar conflitos nos cotidianos institucionais e nas práticas profissionais?

– as teses sobre a ética, área de expertise da Filosofia: sem a reflexão conceitual refinada que é própria da pesquisa pura, como discutir e resolver as questões concretas que se colocam recorrentemente no cotidiano dos profissionais, por exemplo, da área de Saúde?

É por essa razão que a Filosofia e a Sociologia, além de integrarem o currículo do Ensino Médio, também fazem parte dos currículos de diversas graduações cujas práticas profissionais podem parecer mais imediatas e “aplicáveis”, mas cuja qualidade ficaria irremediavelmente comprometida sem a contribuição de ambas.

Dois outros exemplos: os profissionais da Nutrição, cuja prática tem “utilidade” inquestionável, precisam conhecer as diferentes concepções em torno da “boa alimentação” para poderem realizar um bom trabalho junto aos diversos grupos que atendem, conhecimento esse que não pode prescindir das reflexões da Sociologia e da Antropologia; já os profissionais do Direito precisam de uma reflexão sofisticada quanto às fronteiras entre a ética, a moral e a lei, e para isso a Filosofia é indispensável.

Os cursos de Filosofia e Sociologia, mote dessas reflexões que julgamos ser nosso dever oferecer aos cidadãos uerjianos, fluminenses e brasileiros, são os responsáveis por essa contribuição essencial que se dá em três formatos: na pesquisa (pura e aplicada), na extensão (a divulgação do conhecimento produzido) e na formação de professores (para todos os níveis de Ensino).

É na firme convicção de sua natureza imprescindível que vimos assim, a público, cumprir nosso dever de oferecer à sociedade brasileira essas informações sobre a maneira como as diversas disciplinas – Filosofia e Sociologia, inclusive – se entrelaçam, formando aquilo que se define como uma Universidade, instituição da qual temos enorme orgulho de participar.

Reitoria da UERJ

UERJ

Continue a ler »Reitoria da Uerj divulga nota em defesa da Filosofia e da Sociologia

O que está por trás do ensino domiciliar: desvelando seus perigos

 

JC Notícias – 23/04/2019

O que está por trás do ensino domiciliar: desvelando seus perigos

“Em nome de um suposto direito da família em educar seu filho de acordo com os seus preceitos, as crianças são apartadas de um espaço social (escola) fundante para experiências mais coletivas. Isso sem falar das empresas que espreitam essa oportunidade para vender seus serviços de ensino domiciliar”, alerta Marcelo Silva de Souza Ribeiro, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, para o portal Pensar a Educação em Pauta

O projeto de lei (PL) sobre o ensino domiciliar, recentemente apresentado pelo governo liberal-conservador de Bolsonaro, já era algo aguardado, uma vez que parte dos seus apoiadores reivindicavam esse assentimento. Tal medida, justificada pelos seus arautos como um direito da família de suprir a escolarização dos filhos de modo autônomo, faz revelar, mesmo que não seja admitido, um ataque ao estado democrático de direito e um risco ao desenvolvimento das crianças. A mudança, por exemplo, vai impactar, inclusive, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e sem dúvidas, uma quebra às conquistas sociais que visavam garantir o direito das famílias, crianças e adolescentes e o dever do estado, e um esgarçamento no que diz respeito aos espaços públicos de desenvolvimento via as orientações de valores democráticos para a sociedade.

Ao abrir a possibilidade legal do ensino domiciliar (movimento importado dos E.U.A. e chamado de homeschooling) há fragilização do dever do estado e direito das famílias em relação à garantia de escolas para as crianças e adolescentes. Uma porta se abre na direção de relativizar a oferta de vagas/escolas por parte do estado. Em nome de uma suposta defesa da autonomia familiar de educar os filhos de acordo com os moldes da própria família, perde-se a possibilidade da criança estar em um contexto comum, em convívio com outras crianças, em processo de convivência para além do que lhe é transmitido por sua família.

Importante salientar que a importância da escola reside em processos que estão para além da aquisição de conteúdos disciplinares (das matérias ensinadas). Assim, mesmo o governo demandando exames periódicos (como propõe a PL) e exigindo que a família apresente planos de estudos, haverá lacunas não supridas uma vez que a criança perderá (em termos dos seus direitos e deveres do estado) contextos de socialização e interações com os diferentes em espaços públicos, como é a escola (tanto a escola da rede privada, quanto da rede pública).

A sociedade também perderá, uma vez que a ideologia que subjaz tal proposta, que é uma ideologia ultraliberal e ao mesmo tempo conservadora, concebe o desenvolvimento do sujeito numa perspectiva individualista. Em nome de um suposto direito da família em educar seu filho de acordo com os seus preceitos, as crianças são apartadas de um espaço social (escola) fundante para experiências mais coletivas. Isso sem falar das empresas que espreitam essa oportunidade para vender seus serviços de ensino domiciliar (muito provavelmente não serão os pais a escolarizar os filhos por conta do contexto atual das jornadas de trabalho).

Há certamente argumentos em defesa do ensino domiciliar que vão no sentido de oferecer às crianças contextos mais seguros, de modo que elas não estejam em espaços (escolas) suscetíveis de violência. Contudo, esse argumento não se sustenta uma vez que a violência também está presente em ambientes domésticos (a literatura especializada é farta de estudos que mostram que a violência contra a criança “mora em casa”). Não se pode esquecer também dos pais neuróticos que, em nome da proteção, prejudicam o desenvolvimento dos próprios filhos.

Outro argumento a favor, talvez o mais legítimo, tem a ver com crianças que requerem condições muito particulares, como é o caso de pessoas com deficiência. Algumas famílias alegam que, para essas crianças, o ensino domiciliar seria mais efetivo do que na escola. É possível que em alguns casos até seja, mas se isso ocorre é porque o estado não está cumprindo a sua parte no sentido de fazer valer o ECA e o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Assim, caso seja aprovada essa PL, o estado, de certa forma, se desobriga de garantir escolas inclusivas para lidar com a diversidade.

As críticas emergidas fazem desvelar que o ensino domiciliar não significa, contudo, uma defesa ao processo de hiper escolarização. No Québec (Canadá), por exemplo, há uma polêmica provocada pelo governo em propor que crianças de 4 anos iniciem a pré-escola. Profissionais e pesquisadores da educação defendem a ideia de que crianças pequenas possam compartilhar espaços como creche, mas sem entrar na démarche da escolarização.

Assim, o fato de defender a importância da escola não significa que ela deve ser o único contexto de desenvolvimento da criança. Esta precisa do contexto familiar com seus modos culturais próprios, mas também, no equilíbrio de suas idades e medidas progressivas, experimentar espaços comuns com outras crianças, compartilhando e interagindo valores e culturas mais gerais, no exercício do desenvolvimento da cidadania em espaços como a escola.

Pensar a Educação em Pauta

Continue a ler »O que está por trás do ensino domiciliar: desvelando seus perigos