Benigna Villas Boas

Especialistas apontam os desafios da educação básica no Brasil

 

JC Notícias – 23/07/2019

Especialistas apontam os desafios da educação básica no Brasil

A discussão foi nesta segunda-feira (22) durante mesa-redonda, uma das atividades da 71ª Reunião Anual da SBPC, que acontece até sábado na UFMS, em Campo Grande

Os desafios enfrentados pelo País na educação básica são enormes. Para que o Brasil alcance as metas estabelecidas por alguns programas, dentre eles o Plano Nacional de Educação (PNE) é preciso enfrentar o desmonte do Sistema Nacional da Educação Pública em curso, melhorar as condições de trabalho dos professores, melhorar a qualidade de ensino e infraestrutura e reduzir as desigualdades . A opinião é de Eduardo Mortimer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e de Antônio César Russi Callegari, que é do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada (IBSA), durante a mesa-redonda “Avanços e desafios da educação básica no Brasil”, que foi realizada no primeiro dia de atividades da 71ª Reunião Anual da SBPC, que será realizada até sábado (27), na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Todos afirmam que a alfabetização ainda é crucial no País e que aproximadamente um terço das crianças brasileiras não saem plenamente alfabetizadas do terceiro ano do ensino Fundamental. Segundo o IBGE, o Brasil ainda tem 11,3 milhões de pessoas de 15 anos ou mais que são analfabetas — o equivalente a 6,8% da população.

Para Callegari, é essencial que se invista mais por aluno e com foco na aprendizagem, além de investir de forma mais equitativa. “Apenas 7% se formam coma proficiência adequada em matemática. No caso de língua portuguesa, chega a 23%. É preciso mais investimento para que o aprendizado seja feito nos primeiros anos, na hora correta, porque senão a criança vai ficando para trás”, afirma. Ele ainda completa que é preciso aumentar o investimento por aluno, mudar o sistema de destinação da complementação da União, passando para uma lógica direta aos entes federativos com menor valor aluno/ano total, criar uma equalização fiscal e socioeconômica.

Na opinião de Callegari é fundamental seguir o norte enunciado nas 20 metas e 256 estratégias do PNE, além dos planos estaduais e municipais. “Há muitas coisas óbvias a serem feitas. A sociedade civil e os movimentos sociais têm trabalhado há anos em planos detalhados de quais são as ações prioritárias para que avancemos ainda mais em qualidade e equidade na educação básica. Não é preciso reinventar a roda nem seguir por caminhos inócuos, como o das escolas cívico-militares”, afirma.

“Estamos preocupados com os descaminhos da educação no Brasil. Não só o ensino superior têm recebido cortes. Mas a educação básica também. Falta infraestrutura, muitas escolas não têm biblioteca, nem água. Muitas coisas têm de ser feitas. Está no hora de enfrentamento para barrar essa situação. Nenhum recurso foi destinado para as escolas nesses primeiros meses do governo do Jair Bolsonaro”, afirma Callegari que é sociólogo.

BNCC

Já Mortimer, que focou mais na implantação da Base Nacional Comum Curricular  (BNCC) no Ensino Médio, no contexto da Reforma de Ensino Médio, afirma que a Base trará problemas para os cursos de formação de professores, principalmente nas áreas de física e química. “Uma vez que as escolas não são mais obrigadas a oferecer todos os itinerários, elas poderão simplesmente optar por não oferecer, por exemplo, Ciências da Natureza e suas Tecnologias”, comenta.  Essa falta de obrigatoriedade é injusta e pode levar a uma grande lacuna na formação dos jovens pois, como lembra Mortimer, “nas regiões onde as escolas não ofertarem itinerários de Ciências da Natureza ou de Ciências Humanas, os jovens não poderão seguir as carreiras científicas, que dependem basicamente da existência desses itinerários.”

Segundo ele, apenas 42,6% dos professores de física do País têm formação em licenciatura em física. Em química esse percentual sobe para 61,3%, mas ainda assim é baixo. “Isso pode piorar”, lamenta.

O conselheiro da SBPC também demonstra preocupação com a formação dos professores. Para ele, as universidades terão, a partir de agora, que repensar isso, uma vez que no Brasil, todos os cursos de formação estão separados disciplinarmente.

A carga horária mínima é outro ponto que deixa a comunidade científica receosa, explica o conselheiro da SBPC, já que a BNCC estabelece como obrigatórios apenas os componentes Português e Matemática. Além disso, não se especifica como a principal novidade da Reforma do Ensino Médio – a existência de 5 itinerários diferenciados – vai ser implementada na prática, pois os itinerários não foram contemplados no texto aprovado.

Ciência aberta

Com o intuito de melhorar o ensino de ciências nas escolas, o secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcelo Morales, que participou da mesa, apresentou o programa “Ciência na Escola”.

Segundo Morales, o programa “Ciência na Escola” atuará de forma complementar e articulada com ações de popularização da ciência como olimpíadas e feiras de ciência, Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, entre outros. O objetivo é promover o ensino de ciências nas escolas públicas por meio da interação entre docentes e discentes das Instituições de Ensino Superior (IES) e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), do ensino médio e fundamental. “A intenção é estimular o interesse e o aprendizado de ciências por meio da oferta da infraestrutura de laboratórios das universidades e das metodologias de pesquisa”, explica. Duas chamadas já foram publicadas.

Vivian Costa- Jornal da Ciência

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Por que o feedback é imprescindível à avaliação formativa?

 

Por que o feedback é imprescindível à avaliação formativa?

A pergunta acima me foi dirigida por Carina (nome fictício), professora do ensino fundamental, por e.mail.

Comecemos relembrando o principal objetivo da avaliação formativa: contribuir para que o estudante aprenda. Como assim? Em lugar de ele, seus professores e pais se contentarem com notas que deem para passar de ano, todos se unem para que aprenda o que tem direito de aprender para avançar, sem dificuldades. Além disso, ele tem direito de satisfazer suas curiosidades e interesses. Enquanto isso acontece, recursos avaliativos formativos estão em ação, estimulando-o e fazendo com que busque mais e mais aprendizagens.Continue a ler »Por que o feedback é imprescindível à avaliação formativa?

Ainda a militarização de escolas públicas do DF

 

Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Tenho insistido em analisar a chamada “gestão compartilhada” em escolas públicas do DF por entender que não traz benefícios aos estudantes e professores e que não está sendo conduzida adequadamente. Parece-me que mesmo as equipes que a defendem não têm clareza das suas consequências. Nos últimos dias, informações veiculadas em jornais televisivos dão conta de que mais 6 escolas entrarão nesse regime a partir de agosto. Para que isso aconteça, em cada uma delas haverá encontros para que a comunidade escolar (não foi esclarecido se, além dos pais e estudantes com idade definida para tal, os profissionais da escola também terão voz) decida se quer a sua adoção. O subsecretário de educação afirmou que somente terão a gestão compartilhada as escolas em que essa adesão ocorrer.Continue a ler »Ainda a militarização de escolas públicas do DF

MEC firma compromisso para tornar Brasil referência na América Latina até 2030

 

Chama a atenção a linha de trabalho abaixo, que sinaliza um retrocesso. Embora se afirme que as escolas cívico-militares não são instituições militarizadas, a presença constante de militares da reserva, no papel de tutores, vai lhes conferir esse caráter, o que significará a retirada da sua autonomia pedagógica. Os estudantes aprenderão que essa é a escola que lhes convém. Caberá aos professores rebelarem-se contra essa situação.

“Escolas cívico-militares – O MEC tem o objetivo de implementar 108 escolas cívico-militares até 2023. Seriam 27 por ano, uma por unidade da Federação. A medida deve atender cerca de 108 mil alunos.

As escolas cívico- militares são instituições não militarizadas, mas com uma equipe de militares da reserva no papel de tutores. A meta é aumentar a média no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O índice é superior nos colégios militares – 6,99, ante 4,94 dos civis”.

 JC Notícias – 11/07/2019

MEC firma compromisso para tornar Brasil referência na América Latina até 2030

Em café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira, 11 de julho, o Ministério lançou o “Compromisso Nacional pela Educação Básica”

O Ministério da Educação (MEC) anunciou, nesta quinta-feira, 11 de julho, um compromisso pela educação básica em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). O objetivo é impulsionar a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio e a educação para jovens e adultos e tornar o Brasil referência na América Latina até 2030.

Como o Consed é uma representação estadual e a Undime, municipal, a iniciativa vai ao encontro do plano de governo do presidente Jair Bolsonaro. O ponto destacado é a integração da educação nas duas esferas e na federal — no caso, o MEC.

“Essa iniciativa é fruto do direcionamento do programa de governo do presidente eleito Jair Bolsonaro: menos Brasília e mais Brasil. Precisamos viabilizar as boas ideias e experiências de sucesso que a gente já encontra no Brasil todo. A gente não tem alternativa a não ser avançar”, disse o ministro da Educação, Abraham Weintraub, em café da manhã com jornalistas na sede da pasta.

O secretário de Educação Básica do MEC, Jânio Macedo, afirmou que as estratégias são o marco inicial de um planejamento de médio prazo.  “Vamos acompanhar as medidas para demonstrar que todos nós estamos dispostos a fazer um bom trabalho para a sociedade. Vamos prestar contas. O grande beneficiado tem que ser o estudante”.

Já os representantes do Consed e da Undime destacaram o fato do trabalho ter sido construído em conjunto. “É importante levar nossa visão para esse plano estratégico. Está em linha com o plano estratégico que o Consed lançou em março”, observou o vice-presidente do Consed, Fred Amâncio. “Buscar e chamar diferentes atores para dialogar foi um plano bastante acertado”, reforçou o presidente da Undime, Alessio Costa Lima.

Confira as principais linhas de trabalho:

Creches – O Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância) será reestruturado para dar celeridade na conclusão de mais de 4 mil creches até 2022. Até o momento, menos de 50% das obras do programa foram concluídas desde 2007. “Queremos universalizar a pré-escola e colocar 1,7 milhão de crianças nas creches”, afirmou o ministro.

Ensino Fundamental – O MEC vai revitalizar o programa Novo Mais Educação. As escolas que aderirem à iniciativa terão o mínimo de 5 horas de aula por dia. No integral, a ideia é colocar 35 horas a mais por semana. O intuito é diminuir a evasão e melhorar indicadores educacionais.

Hoje, 4,6 milhões de estudantes do ensino fundamental estão em atraso escolar. Para mudar esse cenário, será dada maior atenção aos alunos que já repetiram e/ou estão em risco de perder o ano, com um programa de correção de fluxo. O principal foco é na transição de etapas: da educação infantil para o primeiro ano do ensino fundamental, do quinto para o sexto ano do fundamental e do nono ano do fundamental para a primeira série do ensino médio.

Novo Ensino Médio – O novo ensino médio será estimulado. Serão 1.200 horas por ano para o estudante atuar nos itinerários formativos, ou seja, no seu campo de interesse. É um meio de inserir o aluno na Educação Profissional e Tecnológica, aproximando-o do mercado de trabalho. O ensino médio integral também será fortalecido com investimentos que somam R$ 230 milhões até o fim de 2019.

O aluno continua a estudar a matriz obrigatória da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No contraturno, atuará em uma das seguintes áreas pela qual tiver maior interesse: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e sociais, formação técnica e profissional.

Um total de 17 mil escolas deverá adotar o modelo. Está previsto para 2020 um programa piloto em 3,5 mil dessas instituições.

Educação conectada – O MEC vai conectar, por meio do programa Inovação Educação Conectada, 6,5 mil escolas rurais por meio de satélite em banda larga em todos os estados brasileiros. A iniciativa é para colégios com mais de 200 alunos. Já foram conectados, até o momento, 4.600 instituições de ensino. Serão investidos R$ 120 milhões até o fim deste ano. Aproximadamente 1,7 milhão de estudantes serão beneficiados.

Outros 17 milhões de alunos serão contemplados com conectividade em escolas urbanas. O MEC repassará R$ 114 milhões para fomentar a internet de 32 mil colégios.

Também por meio do programa, as Universidades Federais do Ceará (UFC), de Goiás (UFG) e de Santa Catarina (UFSC) desenvolverão games para tornar as aulas dos anos iniciais do ensino fundamental mais interativas e atraentes. O trabalho é feito pela Plataforma MEC RED. Serão investidos R$ 3 milhões até o final de 2019.

Formação de docentes – Até 2020, serão estabelecidas trilhas de formação para professores da educação básica por meio de cursos de ensino a distância com a disponibilização de materiais de apoio e disponibilização de recursos. Hoje há docentes que lecionam em áreas nas quais não são graduados. O plano é dar condições para que avancem em seus estudos.

Escolas cívico-militares – O MEC tem o objetivo de implementar 108 escolas cívico-militares até 2023. Seriam 27 por ano, uma por unidade da Federação. A medida deve atender cerca de 108 mil alunos.

As escolas cívico- militares são instituições não militarizadas, mas com uma equipe de militares da reserva no papel de tutores. A meta é aumentar a média no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O índice é superior nos colégios militares – 6,99, ante 4,94 dos civis.

Retorno social – O MEC segue a Curva de Heckman, obra do vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2000, James Heckman. O economista observa ser maior o retorno social quão mais cedo for feito o investimento em educação.]

Confira a apresentação aqui.

MEC

 

Leia também:

G1 – MEC lança lista de compromissos para a educação básica; veja pontos

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Meninas devem usar coque e meninos, cabelo curto. O que estão fazendo com as escolas públicas do DF?

 

Meninas devem usar coque e meninos, cabelo curto

O que estão fazendo com as escolas públicas do DF?

Reportagem do Correio Braziliense de 10/07/2019 informa que mais seis escolas do Distrito Federal serão militarizadas a partir de 1º de agosto, por meio de parceria entre as secretarias de Educação e de Segurança Pública. As unidades escolhidas são as seguintes: Centro Educacional Gisno, CEF 19 (Taguatinga), CEF 407 (Samambaia), CEF 01 (Núcleo Bandeirante), CEF 05 (Paranoá) e CED Condomínio Estância III (Planaltina). Isso significa que terão gestão compartilhada.Continue a ler »Meninas devem usar coque e meninos, cabelo curto. O que estão fazendo com as escolas públicas do DF?

ESCOLA: O QUE NELA SE APRENDE QUANDO SE TORNA MILITARIZADA?

ESCOLA: O QUE NELA SE APRENDE QUANDO SE TORNA MILITARIZADA?

Autoria: GEPA

O progressivo aumento da indisciplina, do uso de drogas, do vandalismo, da evasão e da violência nas escolas, seja entre os estudantes ou contra os professores, é uma realidade que tem chamado a atenção da população e suscitado, de forma efusiva, por governantes de diferentes localidades do país, a defesa pela gestão compartilhada das escolas públicas com a Polícia Militar. É uma realidade que não combina com o ambiente escolar, espaço de autonomia pedagógica e reflexão crítica.

Toda essa inquietação não é mais uma discussão restrita às salas dos professores e aos espaços educacionais como um todo, pois reverbera em toda a sociedade que, por sua vez, almeja respostas e ações governamentais que ponham um fim a essa complexa situação.Continue a ler »ESCOLA: O QUE NELA SE APRENDE QUANDO SE TORNA MILITARIZADA?